O juiz
espanhol Baltasar Garzón, conhecido por ter expedido mandado de
prisão contra o ex-presidente chileno Augusto Pinochet, disse que a
corrupção e a impunidade são questões diretamente relacionadas,
que se retroalimentam e viabilizam a execução de crimes contra a
humanidade. Garzón ainda defendeu que a corrupção seja tratada
como crime internacional pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e
que a cooperação judicial entre os países seja mais efetiva, sem a
possibilidade de negação de execução judicial por questões
políticas - o que, segundo ele, contribui para que atividades
corruptas fiquem impunes.
O juiz
espanhol participou de debate sobre o papel da sociedade no combate à
corrupção na 15ª Conferência Internacional Anticorrupção. A
participação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Carlos Ayres Britto, estava prevista, mas foi cancelada. No
final do dia, o ministro chefe da Controladoria-Geral da União
(CGU), Jorge Hage, deverá encerrar a conferência, que aprovará uma
declaração sobre o tema.
De acordo
com o juiz Garzón, durante muitos anos, impunidade e corrupção
foram temas tratados de forma dissociada. Investigações conduzidas
mundialmente, no entanto, mostram que o aproveitamento econômico e a
obtenção de fundos viabilizados pela corrupção financiam crimes
contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio - os três crimes
tipificados pelo Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal
Internacional, em 2002, a única corte internacional que tem
competência para julgar e condenar pessoas por essas violações.
Por outro lado, a comunicação entre as instâncias internacionais e
os tribunais nacionais não é eficiente, o que dificulta as
investigações e a aplicação de penas.
Isso,
segundo o juiz, deve ser investigado no sentido de se avaliar se as
autoridades judiciais e políticas são perseguidas por corruptores
ou têm colaboração com os atos de corrupção.
Para essa
avaliação, Garzón defendeu a ampla participação da sociedade
civil organizada e da imprensa internacional, que, segundo ele, deve
ser ampla e sistematicamente protegida. O juiz disse que atentados
contra a imprensa devem ser catalogados como crime contra a
humanidade - pois seriam óbices à obtenção de informações e,
consequentemente, empecilhos ao combate à corrupção e à
impunidade.
Segundo
Garzón, o TPI deve abrir espaço para que seja feita uma relação
entre as causas e as consequências econômicas dos diferentes
delitos. O juiz deu os exemplos dos crimes cometidos na Líbia e no
Quênia, recentemente tratados pela corte, nos quais ele avalia haver
fundamental origem econômica. Ele elogiou as políticas brasileiras
de combate à fome e à pobreza como forma de atenuar esse tipo de
motivação.
Baltasar
Garzón também defendeu a jurisdição universal para o tratamento
dos crimes previstos pelo TPI. Jurisdição universal é um princípio
do direito internacional em que os Estados teriam o poder de julgar e
condenar pessoas independentemente do local onde o crime foi cometido
ou da nacionalidade do infrator. Em geral, para uma corte exercer
jurisdição sobre um indivíduo, deve haver relação entre a pessoa
em questão ou o local onde o crime foi cometido e a Justiça
responsável pelo julgamento.
Em
fevereiro deste ano, Garzón foi condenado pela Justiça espanhola a
11 anos de afastamento da profissão por abuso de autoridade. O juiz
ainda é processado em outros casos relacionados aos períodos
militares na Espanha e em países da América Latina. Desde que foi
impedido de exercer a profissão, Garzón tem atuado como defensor
dos direitos humanos e de outras questões sociais.
Fonte:
Site Agência Brasil
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