Pesquisa feita com policiais de todo o país, divulgada em 30/7/14
(veja UOL), revelou que a maioria (77,2%) diz ser a favor da
desmilitarização da PM. Ainda segundo o estudo, um terço dos policiais
brasileiros (34,4%) pensa em sair da corporação na qual trabalham. A
insatisfação é muito grande.
Perguntados se, caso pudessem
escolher, optariam novamente pela carreira na sua corporação, 43,7%
falaram que sim; 38,8% responderam que não. Sobre as dificuldades que
enfrentam na rotina de trabalho, mais de 80% deles citaram baixos
salários, leis penais que consideram "inadequadas", contingente policial
insuficiente, falta de uma política de segurança pública e formação e
treinamento insuficientes.
O estudo foi realizado com 21.101
policiais militares, civis, federais, rodoviários federais, bombeiros e
peritos criminais de todos os Estados. Foi promovido pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, pelo Centro de Pesquisas Jurídicas
Aplicadas da Fundação Getúlio Vargas e pela Secretaria Nacional de
Segurança Pública (veja UOL).
Em relação à formação, 37,5% dos
policiais tiveram de seis a 12 meses de aulas durante curso para
ingressar na corporação; 34,2% tiveram de três a seis meses. Outros
números: 73,7% são a favor da desvinculação do Exército; 93,6% acreditam
que é preciso modernizar os regimentos e códigos disciplinares; 86,7%
são favoráveis ao direito à sindicalização e de greve; para 87,3%, o
foco de trabalho da Polícia Militar (PM) deveria ser reorientado para
proteção dos direitos da cidadania; 66,2% acreditam que as carreiras
policiais não são adequadas da maneira como estão organizadas; 80,9%
acreditam que as polícias deveriam ser organizadas em carreira única,
com ingresso por meio de concurso público; 58,3% acreditam que a
hierarquia nas polícias provoca desrespeito e injustiças profissionais.
Mais
números relevantes: 86,2% afirmam que a gestão deve ser mais eficiente;
65,9% disseram ter sofrido discriminação por serem policiais; 59,6%
afirmaram já ter sido humilhados ou desrespeitados por superiores; 43,2%
acham que policial que mata um criminoso deve ser premiado e inocentado
pela Justiça; 83,7% afirmaram que um policial que mata suspeito deve
ser investigado e julgado; 99% apontam os baixos salários; 98,2% o
treinamento e formação deficientes; 97,3% o contingente policial
insuficiente e a falta de verbas para equipamentos e armas. Foram
citadas ainda as leis penais inadequadas (94,9%) e a corrupção nas
polícias (93,6%).
O quadro é trágico. Os policiais não estão
satisfeitos com seus salários, nem com suas instituições e muito menos
com sua preparação para o exercício da profissão (isso contribui muito
para sua própria letalidade, que faz parte do genocídio estatal
brasileiro). A sociedade tampouco está satisfeita com os policiais (de
acordo com todas as pesquisas).
O distanciamento entre a polícia
e a sociedade, sobretudo a mais carente, é abismal. Seguimos o modelo
militarizado de polícia (criado na Europa no século XVIII, pela
burguesia ascendente ao poder). O que funciona, no entanto, é a polícia
comunitária, a única que viabiliza impulsionar atividades de
participação cidadã na polícia e, reciprocamente, promover atividades de
intervenção preventiva policial no entorno social.
Sem uma
mudança radical de pensamento os policiais continuarão incrementando
(ora como autores, ora como vítimas) os números da máquina de moer carne
humana gerenciado pelo genocídio estatal brasileiro, que foi
estruturado para fomentar a destruição massiva recíproca entre todas as
classes sociais desfavorecidas pelas desigualdades brutais entre elas
(de renda, de riqueza, de acesso ao ensino de qualidade, de qualidade de
vida, de cultura, de patrimônio familiar, ética, autocontrole,
equilíbrio emocional etc.).
Artigo de Luiz Flávio Gomes publicado em Atualidades do Direito.
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