sexta-feira, 29 de junho de 2012

O chapéu


     Numa pequena cidade do interior houve um homicídio que chamou a atenção de todos. A vítima recebera vários tiros em um lugar ermo e à noite. Ninguém presenciara o crime, os vizinhos mais próximos apenas ouviram os disparos.

     Mas havia um pormenor curioso: junto ao morto foi encontrado um chapéu, idêntico àquele com que um seu desafeto era sempre visto. As suspeitas aumentaram em face das frequentes discussões entre os dois, a última das quais poucos dias antes. O desafeto foi a julgamento.

     No dia do júri, o réu negou mais uma vez a acusação de ser o dono do tal chapéu, alegando ter perdido o seu há tempos. Não havendo testemunhas, o chapéu, colocado solenemente sobre uma mesa do plenário, era a única evidência da autoria.

    A defesa demonstrou que aquele modelo de chapéu fora produzido aos milhares e que centenas deles tinham sido vendidos na região.

     O réu foi absolvido por unanimidade e o promotor de justiça não apelou.

     Uns dez dias depois, o ex-acusado foi ao fórum, sem seu advogado, dizendo que queria falar pessoalmente com o juiz. O magistrado o atendeu e ele, num misto de simploriedade e desfaçatez, disse:

     ─ Doutor, agora que o processo acabou, eu queria o meu chapéu de volta.


Texto de Roberto Delmanto, publicado em Carta Forense, adaptado para este blog.

Um comentário:

  1. Cara de pau, esse réu. E ficou impune porque o promotor desistiu, não acreditou numa condenação nos tribunais. Ótima postagem. Beijos.

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