Hoje é um dia histórico para o país. Há exatos 30 anos, Tancredo Neves foi eleito presidente da República pelo colégio eleitoral. Era o fim de um período de 21 anos de ditadura militar.
Dia 15 janeiro de 1985: o Congresso Nacional elege um novo presidente da República. Era o fim da ditadura militar que comandou o país por mais de 20 anos. O Brasil tem um presidente civil: Tancredo Neves.
Já faz 30 anos, mas a lembrança daquele dia e de todo o período de agitação política que antecedeu a eleição de Tancredo Neves está bem viva nas memórias da médica Marta Vieira e do marido, Fernando. Eles ainda não se conheciam. Os dois eram alunos da Universidade de Brasília. Participaram de protestos contra a ditadura militar e a favor das eleições diretas para presidente.
Marta se lembra do sentimento de frustração quando a proposta de reestabelecer a eleição direta, do deputado Dante de Oliveira, foi derrotada no Congresso, ainda em 1984. Mas ela também se lembra que logo em seguida o sentimento de esperança foi depositado na possibilidade de eleger o ex-governador mineiro, Tancredo Neves.
“Não foi, evidentemente, uma eleição direta, mas o povo acho que se sentiu representado sim. O Tancredo se tornou o candidato da democracia”, conta.
Os eleitores eram deputados federais, senadores e representantes das assembleias estaduais. Os brasileiros não puderam votar, mas acompanharam a sessão de perto ou pela TV, e comemoraram cada um dos 480 votos a favor de Tancredo. Paulo Maluf, do PDS, teve 180 votos.
No plenário, festa da democracia. Nascia a Nova República.
Assim que foi eleito presidente, Tancredo Neves fez um discurso emocionado na mesa da Câmara dos Deputados. Disse que a nação inteira vivia um momento de esperança e reencontro com o caminho democrático e que aquela foi a última eleição indireta do país.
“Esta foi a última eleição indireta do país. Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo. Não foi fácil chegar até aqui. Nem mesmo a antecipação da certeza da vitória, nos últimos meses, apaga as cicatrizes e os sacrifícios que marcaram a história da luta que agora se encerra”, disse Tancredo em seu discurso.
"Quando o Tancredo foi eleito pelo Congresso, pelo colégio eleitoral, a sensação majoritária no seio da população brasileira é de aquela tinha sido uma eleição direta. Os cidadãos brasileiros na sua imensa maioria se sentiram também participando daquele processo”, explica Antônio José Barbosa, professor de História da UNB.
Dois meses depois, na véspera da posse, a euforia com o novo momento político do país se transformou em drama. Tancredo Neves estava doente, foi internado em estado grave.
O atual Secretário Geral da Câmara, Mozart Vianna, que já era funcionário do Congresso e transitava entre os principais líderes políticos da democratização, diz que a doença de Tancredo foi um choque. “Eu tinha muita esperança no trabalho dele, então com o falecimento, naquele primeiro momento, deu aquele susto, aquela preocupação, aquele receio de um retrocesso, aquele receio de um regime de força se aproveitar daquele momento”, conta Mozart.
Muitos tiveram a mesma preocupação. “Eu me lembro até que eu cheguei em casa, dei a notícia para a minha mãe e ela falou: ‘O país não merece isso. A nação não merece isso’. Foi um choque muito grande”, diz o professor de fotografia Fernando Ribeiro.
No dia 21 de abril, a notícia que o país não queria receber. “Lamento informar que o Excelentíssimo Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu está noite”, anunciou Antonio Britto, Secretário de Imprensa da Presidência da República.
Mas o caminho já estava aberto: os militares saíram de cena e o vice de Tancredo, José Sarney, assumiu a presidência. Quatro anos depois, em 1989, o povo finalmente foi às urnas para escolher o presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello. Depois disso, votou outras seis vezes em eleições presidenciais.
Fonte site G1
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