segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Clínica de aborto oferecia serviços por rede social

Uma das principais clínicas de abortos clandestinos do Rio Grande do Sul foi descoberta e desarticulada na última semana, em uma operação que teve oito pessoas presas e equipamentos usados em operações apreendidos – entre eles agulhas de tricô. A quadrilha contava com agenciadores, atravessadores e um esquema de segurança, e as negociações começavam em grupos de uma rede social da internet, como mostra reportagem do Teledomingo, da RBS TV (confira no vídeo).
Clínica de aborto foi fechada em Porto Alegre (Foto: Fábio Almeida/RBS TV) 
Clínica de aborto foi fechada em Porto Alegre
(Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
A quadrilha oferecia o aborto através de uma página rede social. A oferta incluía o envio de medicamentos abortivos para outros estados como São Paulo. Na própria página, uma mulher que se apresentava com o falso nome de Eva Duarte conversava com os interessados. Ela garantia que a realização do procedimento seria feito por médicos de primeiro mundo em uma clínica de luxo.
"Isso nos chama bem a atenção, a audácia dessa quadrilha em ter essa página na rede social. Estamos convencidos de que estamos diante de uma organização criminosa bem estruturada", afirma o delegado Cleber Ferreira.

A lei brasileira proíbe o aborto, exceto em casos específicos em que a vida da mãe corre perigo, se ela for vítima de estupro ou se o feto não tiver cérebro (anencefalia). Por isso, o anúncio na rede social surpreendeu o delegado, que também relatou a falta de preparo no local. "Ali também se notou durante a nossa incursão que não tinha nada que pudesse salvar uma vida se qualquer coisa que desse errado naquela intervenção cirúrgica que eles estavam praticando", disse Ferreira.


Encontro marcado
Clínica de aborto foi fechada em Porto Alegre (Foto: Fábio Almeida/RBS TV) 
Equipamentos foram apreendidos pela polícia
(Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
Uma produtora da RBS TV marcou um encontro com Eva numa casa na Zona Sul de Porto Alegre. Neste local, ela vendia os medicamentos abortivos e passava informações aos clientes. "Eu atendi de maio para cá, umas 60 mulheres. Cinco falharam na medicação, só que todas foram para a clínica depois. Vamos supor que a medicação não deu, o que é raro. Tu vais ter o desconto de todo o valor na clínica", garantia.

Caso a cliente quisesse fazer o aborto na clínica, fazia contato através de um homem apresentado como Jean, o atravessador. Com ele, Eva ainda conseguia um pedido para a realização de uma ecografia. "Tem que ter um encaminhamento. Não tem o que eu não consiga. O submundo é assim", revela.

A produtora recebe uma requisição falsa do SUS do Hospital Conceição em nome de uma médica. A polícia investiga a origem do documento. Com a certeza de que a ecografia estava feita, Jean confirma o agendamento.

Jean: É bom que tu venha com a grana já, pra fazer lá. É pagou e fez, entendeu?
Produtora: É limpo, tudo. Não preciso ficar preocupada?
Jean: Não. É um lugar de verdade mesmo. Uma clínica de verdade.


Quadrilha desarticulada
O atravessador buscava os clientes em uma parada de ônibus em frente ao um shopping na Avenida Cristóvão Colombo, Zona Norte de Porto Alegre. Juntos, seguiam a pé por duas quadras, mas só podiam entrar na clínica acompanhados do integrante da quadrilha. Dessa vez, eles não sabiam que os clientes, na verdade, eram policiais disfarçados.

Mulher que vendia medicamentos abortivos também foi presa no RS (Foto: Divulgação/Polícia Civil) 
Mulher que se apresentava como Eva é levada ao
Palácio da Polícia (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Os policiais entram na clínica, que tem grades e portas reforçadas. Em segundos, a quadrilha é desmontada. Sete pessoas foram presas. Uma jovem de 21 anos que estava pronta para ser operada foi ouvida pela polícia e liberada. Um perito confirmou que os instrumentos recolhidos eram usados na prática do aborto. Entre eles, agulhas de tricô. Eva, a oitava integrante do grupo foi presa em casa.
O obstetra Antonio Celso Ayub, diretor da maternidade da Santa Casa de Porto Alegre, alerta para o perigo que as mulheres submetidas a aborto clandestino correm. "Os riscos existem, de acidentes próprios do ato, como perfuração uterina, rupturas de vísceras e, particularmente, o grande risco é de infecção. Além de que não existe anestesista competente para fazer o processo anestésico", explica.

Fonte site G1

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